quarta-feira, junho 21, 2006

Pecado


Em bicos dos pés, quase deslizando em silêncio, caminha o pecado.
A mordaça que o envolve, não se reduz a fantasia erótica, nem a um atavio estudado, é o corpo que o estrutura e lhe mantém a existência.
Lado a lado convive com as virtudes, de mão dada, para não despertar suspeitas perpetuando no anonimato que tanto lhe convém.
Está nas vielas estreitas, nas ruas envoltas de escuridão, em quartos opacos de memória e amolecido de vontades que povoam a existência de cada um.
Esconde-se porque sabe ser proibido, nega o desejo porque não quer ser evitado e mantém-se incógnito em vidas públicas porque sorri apenas em privado.
O seu mundo embaciado esconde desditas nas dobras da vida, não há verdade que não conheça o pecado e não há pecado que não se estruture na insensatez do minuto na loucura do momento.
É faminto, catalisador extravagante de vontade ocultas, é fluído e flexível, insano e lascivo.
Cresce nas inocências talhadas de tabus teóricos. Anarquista e vicioso distorcendo a própria imagem qual água agitada por ventos em desnorte.
Complexo equilibrista inventa histórias de retórica suspeita para contornar indignidades e acalmar os escrúpulos. Fecundo na erosão corroí na imprudência as linhas rectas da integridade.
Pecado arrogante no falar, avarento no estar, invejoso e irado, preguiçoso e guloso rodeia-se de luxúria prenhe de desejo, sevicia realidades prometendo sigilo qual tartufo burlesco cativando comportamentos de complacências suspeitas.
Veste inocência fingido desconhecer as regras e inventado desculpas.
Pecado, filosofo de sentidos desafiando virtudes, mais desejado que odiado, finge aceitar pudores para viver na comunidade.

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