sexta-feira, fevereiro 23, 2007

20 anos ... perdeste na vida mas poupaste nas desilusões




- hoje mais uma fábrica foi bloqueada pelos trabalhadores que mesmo indo trabalhar todos os dias não recebem vencimentos... tem bom aspecto as instalações brancas e modernas de edifício não caduco, ninguém diria que a falência bate à porta, não do patrão... mas dos empregados;

- hoje um "pai" apanhou dez anos de prisão por atentar contra a filha bebé e a mãe que assistia sem reclamar apanhou 4 anos e meio... o advogado vai recorrer;

- hoje o Sócrates (o ministro... não o filósofo) faz questão da igualdade entre os homens e as mulheres e mais uma urgência está prestes a encerrar (desta vez no Montijo) e ele, 1º Ministro diz: "perguntem aos Ministros";

- hoje foram apanhados mais traficantes de droga que faziam o seu negócio encobertos por uma Estufa de Flores... será que foi montada com ajudas da Comunidade Europeia?

- hoje os funcionários da EMEL sentem-se polícias porque podem bloquear e mandar rebocar carros que estão em transgressão e os polícias reclamam as suas competências ultrapassadas;

- hoje faz 20 anos que faleceu Zeca Afonso e eu digo abençoado que não ficaste para ver a vã glória de reinar de uma esquerda sem operários e que faz lembrar a letra dessa canção que foi composta a pensar em outros que não estes mas que de momento lhes assenta que nem uma luva...



Como se faz um canalha





Conheci-te ainda moço

Ou como tal eu te via

Habitavas o Procópio

Ias ao Napoleão







Mas ninguém sabia ao certo

Como se faz um canalha

Se a memória me não falha

Tinhas o mundo na mão








Alguma gente enganaste

(A fé da muita amizade)

Tem também as suas falhas

Hoje fazes alianças



A bem da Santa União

Em abono da verdade

A tua Universidade

Tem mesmo um nome: Traição



Um social-democrata

Não foge ao Grão-Timoneiro

Basta citar o paleio

O major psicopata



Já são tantos namorados

Só falta o Holden Roberto

Devagar se vai ao longe

Nunca te vimos tão perto


Nunca te vimos tão longe

Daquilo que tens pregado

Nunca te vimos tão fora

Da vida do Zé Soldado



Ninguém mais te peça meças

No folgor dos gabinetes

Hás-de acabar às avessas

Barricado até aos dentes



És um produto de sala

Rasputim cá dos Cabrais

Estas sempre em traje de gala

A brincar aos carnavais



Nos anais do mundanismo

A nossa história recente

Falará com saudosismo

Dum grande Lugar-Tenente



São tudo favas-contadas

No país da verborreia

Uma brilhante carreira

Do produto todo o ano



Digamos pra ser exacto

Assim se faz um canalha

Se a memória não me falha

Já te mandei prò Caetano
______________________________




Vejam bem





Vejam bem

Que não há

Só gaivotas

Em terra


Quando um homem

Se põe

A pensar



Quem lá vem

Dorme à noite

Ao relento

Na areia

Dorme à noite

Ao relento

Do mar


E se houver

Uma praça

De gente

Madura

E uma estátua

De febre

A arder



Anda alguém

Pela noite

À procura

E não há

Quem lhe queira

Valer



Vejam bem

Daquele homem

A fraca

Figura



Desbravando

Os caminhos

Do pão


E se houver

Uma praça

De gente

Madura

Ninguém vai

Levantá-lo

Do chão



Vejam bem

Que não há

Só gaivotas

Em terra

Quando um homem

Se põe

A pensar


Quem lá vem

Dorme à noite

Ao relento de areia

Dorme à noite

ao relento do mar




1 comentário:

Anónimo disse...

a musica e as palavras do José Afonso vão além das ideias politicas. Um grande Homem, um grande autor.