quarta-feira, dezembro 27, 2006

A B O R T O


Porque Dezembro é um mês especial em que as pessoas se encontram, pensam mais nas outras, juntam-se para jantares que são sempre anuais e que só por si são um ritual de fim de ano, porque as famílias mais e menos numerosas convivem de forma mais activa, porque todas as associações estão a trabalhar a todo gás para tentar favorecer os mais castigados socialmente, porque há consumo a mais, comida a mais, luzes a mais, circo a mais e tantas outras coisa que não vou aqui inumerar estava a evitar falar deste assunto ainda este mês...


A B O R T O


A República das Bananas vai novamente ouvir a opinião pública sobre este tema.

E como tal a fins de Novembro começa a sentir-se a manifestação dos prós e contras na comunicação social...

A política é talvez a arte mais suja que conheço porque consegue com total falta de pudor lançar-se em campanhas oportunistas que visam lavar a mente, deitar poeiras, polir o cérebro e com ênfase apresentar os assuntos mais dispares a discussão mantendo um ar de pureza que raia a virgindade angelical.

Neste contexto surge uma campanha A B O R T O que dará origem a um referendo (mais um) num mês em que as crianças, o Natal, as histórias de encantar, as luzes, o nascimento do Menino Jesus, a pureza da Virgem Maria, a cabana sem condições de uma gente que era perseguida é o fulcro das acções...

Eu chamo a isto oportunismo, lavagem cerebral, chantagem emocional e acima de tudo incomoda-me que tudo isto seja feito a bem do povo português que é ceguinho e adora um bom fado do desgraçadinho.

Como todos sabemos o nosso País está economicamente estável, politicamente saudável, financeiramente seguro, o nosso país não tem problemas, não tem desemprego, não tem falências, fraudes fiscais, crimes, burlas, miséria. O nosso País está com o problema da educação resolvida, com as reformas económicas feitas, com a sociedade toda protegida de igual modo, com a saúde organizada de uma forma abrangente para que todos possam ser tratados como seres humanos...


o nosso lema deveria de ser: Portugal vale a pena, junte-se a nós...


E com este lema lançado em campanhas internacionais abrangentes de nível mundial poderíamos garantir uma mais valia de mais emigrantes porque os que cá estão seguramente que estão bem e deveríamos ser reconhecidos como um país equilibrado onde não há criminalidade...

E por tudo isto estar como está ou seja BEM, os nossos representantes legais, que nós pomos no poder com o nosso voto, decidiram, que esta é a altura ideal para lançar uma campanha e um referendo sobre o A B O R T O.


e a pergunta é: “Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras 10 semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?”


E lá estão os grande painéis cheios de chavões, rosa (cor de menina) sobre o negro do luto... grandes campanhas publicitárias... políticos na rua, recolhas de assinaturas, conversas católicas e mais uma quantidade de coisas que eu tenho perdido porque a fúria não me deixa ver.

E o que pretende o tal referendo?

O referendo pretende saber se o povo acha que as mulheres tem direito ou não a decidir, durante um prazo estipulado, se querem ou não, ter o filho, fruto de relações sexuais que as deixou grávidas e se assim se decidir que as mulheres tem direito de opção sob a sua maternidade, se o acto de optar por não ter esse filho poderá ser legalmente acompanhado por médicos da especialidade em hospitais públicos ou seja legalmente...penso ter equacionado bem o tema em discussão.

Será que o aborto começou agora, será que até aqui não se fazia abortos?

Não... sempre se fez abortos, da mesma forma que sempre houve prostitutas e da mesma forma que a homossexualidade sempre existiu... mas estamos na época da aprovação legal de todos os nossos actos, numa época em que o governo pode por famílias no desemprego sem pedir referendo mas tem de pedir o referendo quando eu mulher independente que paga impostos decido em perfeito juízo que não quero ter um filho.

Esta decisão de mim sobre mim e sobre um filho que seria meu e do meu sangue tem de ser exposta publicamente, argumentada convenientemente e convincentemente

Eu só quero que me expliquem se quando se decidiu fazer casas de chuto, tratamentos a tóxicodependentes (que na grande maioria nunca produziu ou contribuiu para o país), tratamentos clínicos e distribuição de medicamentos e seringas aos mesmos isto foi a referendo antes?

É que se no caso do aborto eu estou a tirar o direito à vida a um conjunto de células ou a um ser vivo (como pretendem que seja considerado), no caso dos tóxicodependentes eles estão diariamente a cometer suicídio... isso não é crime?


Atenção que este exemplo apenas serve de comparação porque não estou contra os tóxicodependentes embora não concordo com a forma compassiva como se olha para

eles porque detesto "coitadinhos".


Mas vamos a outro caso


Quando há tratamentos e benefícios dados a alcoólicos e a sociedade se empenha em ajudar a integrar os mesmos e há consultas e acompanhamento hospitalar aos mesmos, há despesas?

E houve referendo para saber se os que não bebem aceitam que os seus impostos sejam gastos com os que bebem até ao descontrole que os leva a destruir uma família?

E qual é a opinião da igreja nestes dois casos?

Eu digo SIM ao ABORTO porque não permito que a sociedade me diga quando devo ter um filho, porque não acho que uma criança tenha de vir ao mundo porque "calhou", porque "falhou a pílula" ou por qualquer outro motivo tão sem nexo que até a própria grávida tenha vergonha de contar.

Eu digo SIM ao ABORTO porque um filho não é um brinquedo, não é um hobby... um filho necessita de tempo, carinho, cuidados, educação, saúde e futuro e isso só a própria grávida saberá se está em condições de dar.

Quem alega que fazer um aborto é um crime, é matar um ser vivo... não vê noticiários e dedica-se a brincar à caridade... não anda na rua à noite nos bairros degradados e se calhar nunca fez um aborto e por isso não sabe que a dor de fazer um aborto é moral e dói toda a vida... a dor física passa, o risco de morrer no momento em que se faz um aborto sem condições acaba por ser esquecido mas os anos passam e a dor moral fica... deixem de brincar com a capacidade de decisão dos outros, deixem de ser falsos proteccionistas e pensem quantas vezes negam ajuda a crianças que pedem na rua, perguntem o que fazem durante o ano para ajudar à educação e sensibilização de homens e mulheres para que não haja tantas gravidezes indesejadas.

Não basta contribuir para a UNICEF ou para qualquer outra instituição uma vez por ano... não. Isso é fácil, difícil é ajudar porque se quer ajudar e não porque a época nos lembra.

Se o resultado do referendo for Não ao Aborto quem fica na mesma são os de sempre... os que vão a clinicas privadas, os que vão a Espanha ou a qualquer outro país a coberto de uma férias e chegam mais leves... os que não tem dinheiro para o fazer são os verdadeiros prejudicados.


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