Estranha noite para se viajar...
O céu carregado de nuvens cinzento escuro não deixa margem para dúvida que a tempestade está a caminho.
Dentro do carro soa o silêncio quebrado apenas pela respiração quadrifónica de almas diferentes.
Os pingos começam a cair, primeiro lentamente e em segundos é como se o céu castigasse a terra e a quissesse fazer desaparecer.
O pára-brisas corre-corre de uma ponta a outra do vidro tentando livrar-se da água que escorre em cascatas de medo. A velocidade diminuio no pavor da água que parece levar tudo na frente.
Ao volante alguém que não conheço. Liga-se o rádio que quebra silêncios incomodativos.
Olho em frente e recordo uma outra viagem de céu estrelado e calor sufocante num verão sem data.
Nesse dia os quilometros cresciam como fruta em primavera de promessas. Havia pressa de chegar, havia desejo de respirar o mar.
As janelas abertas trocavam imagens no correr da paisagem.
As palavras tinham mudado de sítio ou não seguiam viagem, o silêncio era rei.
Pesavam os pensamentos que se misturavam em desarmonia de anseios.
Os monólogos travam batalhas de conquistas invisiveis troçando dos diálogos surdos que faziam voo raso neste ambiente de desconhecidos quase hóstil.
Pus um braço de fora porque precisava de ar, precisava de me sentir viva e de sentir a pele correr no tempo.
Os sonhos embatiam no vidro da frente com estalidos de brusquidão acompanhando o batuque dos mosquitos que iluminados na noite se esborrachavam no vidro deixando marcas de sangue.
Lá fora o meu braço treme empurrado pelo vento. é lua cheia. Noite de lobos, abismos e pensamentos negros de vazio inconcreto. Há palavras por dizer, pensamentos em vertigem e agonia que não se conseguem esclarecer.
Há hostilidades indefinidas com protagonistas que são só sombra de outras horas passadas.
Os quilometros avançam passando por gritos que em busca de sonhos intempestivos se misturam no ar quente da noite. Brotam de mentes jovens presas em povoações anónimas onde o sonho é ainda o desejo...
Charada humana onde uma troca de olhares faz crescer histórias incompletas.
A chuva parou, não sei onde estou porque a viagem no tempo me levou a orientação. No carro o silêncio é violado apenas pela música de uma rádio qualquer.
Quatro almas que dividem nadas e escondem pensamentos assistem aos riscos de paisagem que vão ficando para trás no tempo.
Tenho fome, tenho sede... apenas desejos carnais de quem se quer manter viva. Gostava quem alguém liberta-se os sons e quebra-se o gelo porque me apetecia falar, porque o silêncio dói.
O carro pára... chegamos ao destino, amanhã é outro dia.
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