segunda-feira, setembro 04, 2006
Era uma vez um tipo feliz...
Para o meu amigo João Sobral....
Era uma vez um tipo feliz... tinha sempre aquele brilhozinho nos olhos natural de quem está de bem com a vida...
Ria, ria muito e fazia rir os demais aligeirando os dias nas transversais de palavras soltas de segundas intenções.
Por tudo isto e por muito mais do que isto, era popular e a sua voz estava ligada aos bons momentos que a vida nos dá.
Um dia... assim mesmo, tal e qual... um dia qualquer resolveu rir sozinho sem contar a piada antes... ficamos a olhar para ele de sorriso nos lábios a pensar que loucura lhe teria passado pela cabeça.
Outro dia mais e sem história que o distingi-se dos demais trocou as palavras, mas ninguém ligou e logo ali saltaram as frases dos comuns que apenas repetem o que ouvem - "PDI", "não bebes mais desse vinho", "...é a idade, chega a todos" - e daí aos ditotes brejeiros foi um passo e lá desandou a conversa de novo para as palhaçadas do costume que aliviam a alma e abrem os pulmões.
Mas o tipo continuava feliz... bom garfo e melhor amigo.
Mais outro dia sem número e o nosso amigo bem disposto e contagiar com a a sua boa disposição à esquerda e à direita embora que por breves segundos as conversas lhe saíam enroladas em palavras deslocadas de contexto.
Num momento de brincadeira confessou que a velhice agora dava para lhe baralhar o sentido das palavras e que confundia o Capuchinho Vermelho com a Branca de Neve e nem sabia de quem era a avó... mais umas gargalhadas desatentas e presas aos finos fios que nos unem nas realidades.
As coisas foram em bola de neve e um dia alguém lhe disse "é pá devias de fazer exames que andas esquisito" ao que ele sempre pleno de respostas retrucou "já não tenho idade para estudar"...
Mas tantas vezes se repete e se teima que um dia ele muito contrariado lá se convenceu e foi ao Hospital... e um amigo do amigo que levou a outro amigo lá se acelerou os exames e o homem feliz perdeu o brilho no olhar porque descobriu que o seu cérebro tinha lá um ocupante ilegal que lhe estava a apertar as ideias...
Os risos tolos transformaram-se em lágrimas de dor, em angustias e dúvidas, os amigos juntam-se em volta do homem feliz e falam e perguntam e mostram revolta e não querem acreditar nesta verdade tola que a todos apanhou de surpresa...
E veio um médico e mais outro médico e ainda o amigo desse médico e todos olhar e deram opiniões e fizeram conferências e trocaram opiniões e reflectiram enquanto os leigos da vida recorriam às velas , à fé e ao optimismo...
Foram dias negros em que os pensamentos e as angustias se escondiam no fundo da alma na hora da visita para não castigar mais o nosso homem feliz.
E chegou o dia em que o tal de ocupante ilegal iria ser expulso por não estar devidamente legalizado e habitar sem autorização em cérebro alheio... 5 horas, 5 horas de dúvidas, cinco horas de unhas roídas, de olhares tristes, de nervos em franja de perguntas sem resposta...
Dói, dói de uma forma muito estranha esta angustia do desconhecido...
Mas a vida deu um passo em frente porque a morte não tem sentido de humor e hoje o homem feliz já sorri debilmente, mas sorri e nós já deixamos escapar os suspiros que nos embrulhavam as emoções... vão devolver-nos o nosso homem feliz... vão devolver-nos o amigo... vão devolver-nos o João com o seu riso contagiante e as suas brincadeiras encantadoras que tanta falta nos faz...
O nosso amigo fui recauchutado com sucesso...
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