sexta-feira, setembro 29, 2006

são rosas senhor...


- São rosas, Senhor!
- Rosas? Rosas em Janeiro? - duvidou ele
- Deixai-me ver!
De olhos baixos, a rainha Santa Isabel abriu o regaço e o pão tinha-se transformado em rosas, tão lindas como jamais se viu.

quarta-feira, setembro 27, 2006

AMOR-TE

AMOR-TE

A FACE DA MORTE EM LISBOA

Lisboa recebe, de 3 a 28 de Outubro, no Museu da Água na Mãe d’Água das Amoreiras em Lisboa, uma das mais polémicas exposições fotográficas apresentadas nos últimos anos na Europa.
O fotógrafo alemão Walter Schels e a jornalista Beate Lakotta acompanharam cerca de 24 doentes terminais nos seus últimos momentos de vida. Percorrendo diversos hospitais, onde durante semanas viveram de perto a dor de quem sabe que o fim está perto, surge a exposição Amor-te. Um conjunto de 44 fotografias, a preto e branco, fixam dois momentos de cada doente terminal: uma fotografia ainda em vida e outra logo após a morte.
A exposição AMOR-TE conta-nos as experiências, os medos e as esperanças daquelas pessoas, cujo comovente testemunho permanecerá para sempre através das fotografias de Walter Schels e dos textos da jornalista da revista Der Spiegel, Beate Lakotta.

quinta-feira, setembro 21, 2006

o Bush... um ano em revista

e depois a cantar sempre parece menos doloroso...

terça-feira, setembro 19, 2006

Pesadelo...


No dia em que os sons partiram, ninguém estava á espera.
Assim sem aviso prévio, sem contestação ou razão específica, instalou-se a surdez como quem vem para ficar.
No inferno festejou-se a cor... e a cor era vermelha, pungente de euforia como só o vermelho sabe ser, vermelho cardeal porque o diabo tem destes humores satíricos.
Dos convidados apenas se sabe que pensavam que a surdez estava em sintonia com brincadeiras demoníacas e que tudo era apenas mais uma partida temporal que qual jogo servia para passar o tempo inventando novas formas de comunicação.
E assim sem música nem conversas ruidosas pularam e inventaram danças, mimaram e inventaram gestos. Falaram sem falar e tocaram-se e abraçaram-se gesticulando para demonstrar tudo o que queriam expressar.
E de tantos abraços e toques acabaram por inventar prazeres que os faziam rir sem som e até as cócegas eram diferentes porque apenas se manifestavam por impulsos nervosos.
Sem dúvida que aqui e ali os mais atrevidos brincaram de orgia porque isto de falar sem dizer ou dizer a tocar tem frutos desconhecidos.
As horas passaram e a brincadeira já não tinha tanta graça, estavam cansados de gesticular e de repetirem palavrões e maldades sem som que lhes desse vida. E foram caído no cansaço tristes por não poderem dizer "já chega, basta..."
Foi neste ambiente desolador que pela sala entrou a Alegria farta de ser hostilizada e chocou com a Surdez cínica que sorria sem dentes esticando os lábios finos e descoloridos que lhe davam um ar estranho de figura de cera.
Os presentes trocaram olhares de medo porque sabiam que a surdez desconhece o som da alegria e a alegria não vive nos silêncio amarfanhados de neurose.Lutaram, lutaram com fúria por terrenos escorregadios.
Os pequenos rumores que chegavam mostravam que por momentos escassos a alegria conquistava terreno mas logo de seguida voltava o silêncio.
E a luta estendeu-se por segundos infinitos que o tempo não se pode medir quando as lutas não são dimensionáveis e eis que sem aviso e pleno de fúria irrompe no espaço a Memória Colectiva que sem mais acabou com esta luta, de tolos, gritando que fizessem o que fizessem as recordações sempre teriam som e alegria porque eram passado, porque eram memória, porque a memória não apaga ... a memória guarda e é de memórias que vivem os espíritos.
Como numa fotografia, onde a imagem fica parada, assim aconteceu e como um mundo de gelo em pleno deserto... os intervenientes desapareceram e o mundo foi ganhado sons e risos, lágrimas e gritos, vestiu-se de cores diversas e os abraços de amizade voltaram a ser o que eram e a luxúria e o desejo retomaram os seus caminhos de mão dada conversando sobre timbres e musicais e da falta que os sons faziam em cada acto em cada frémito para dar vida às emoções.

sexta-feira, setembro 15, 2006

Foi o Woody Allen quem disse... ele lá saberá


Todos los hombres son mortales. Sócrates era mortal. Por lo tanto, todos los hombres son Sócrates. Lo que significa que todos los hombres son homosexuales. (La última noche de Boris Grouchenko)

quinta-feira, setembro 07, 2006

Eu adoro estes cães...




A Lua e o Dimitri... digam lá que não são cães com classe

quarta-feira, setembro 06, 2006

à deriva...



Foto de: Andrew Dawson

Quero deixar-me ir, assim, à deriva sem passageiro qual bote de madeira desgastada abandonado e sem amarras nem remos.
Mar a dentro, nas vagas calmas de marés enchentes ou vazantes, sem destino, sem promessas, sem projectos, limpa das impurezas que constroem o destino e conduzem as agonias diárias e as contradições revoltantes de uma vida em sociedade.
Sou madeira pintada e repintada de cores riscadas e danificadas pelas águas indiferentes que passam na revolta da indiferença.
Tive um nome... minto, tive vários nomes consoante o dono que por mim passou... para uns esposa, para outros namorada e até cheguei a ser Deusa...
Agora restam letras apagadas pelo tempo que não perdoa mudanças, letras sem sentido que os curiosos tentam advinhar para poderem construir histórias desta imagem de abandono... histórias que gostaria de ouvir porque sonhadas por outrem.
Transportei dentro de mim sonhos e anseios, risos e lágrimas, esperanças de credo e confiança cega de horizontes sem risco. Fui distracção de almas sem contornos, passatempo de ilusões desfocadas.
Os balanços das ondas são como cadências de relógio de batida certa. As vagas, que imagino, transportam-me em batidas de paixão que duvido voltar a sentir.
Lá no fundo que não vejo... correm vidas coloridas que assombro com a minha presença sombria, lá no fundo há risos, há mortes, há fome, há caça, há vida pintada de ciclos que reconstroem o mundo dia a dia.
Cardumes de peixes anónimos roçam o meu casco imprudentemente como crianças de pura inocência. Cardumes iguais seguindo rotas sem linha lembrando multidões em hora de ponta.
Algas esverdeadas vagueiam como poetas de rima incerta em plena criação artística.
E neste mundo de oclusões sigo destino desconhecido entregue a ventos e águas de carácter revoltoso sem saber se o porto é seguro, se à no mundo algum porto verdadeiramente seguro e desconfiando que sofrer é apenas uma palavra de aplicação casual.

segunda-feira, setembro 04, 2006

Era uma vez um tipo feliz...


Para o meu amigo João Sobral....

Era uma vez um tipo feliz... tinha sempre aquele brilhozinho nos olhos natural de quem está de bem com a vida...
Ria, ria muito e fazia rir os demais aligeirando os dias nas transversais de palavras soltas de segundas intenções.
Por tudo isto e por muito mais do que isto, era popular e a sua voz estava ligada aos bons momentos que a vida nos dá.
Um dia... assim mesmo, tal e qual... um dia qualquer resolveu rir sozinho sem contar a piada antes... ficamos a olhar para ele de sorriso nos lábios a pensar que loucura lhe teria passado pela cabeça.
Outro dia mais e sem história que o distingi-se dos demais trocou as palavras, mas ninguém ligou e logo ali saltaram as frases dos comuns que apenas repetem o que ouvem - "PDI", "não bebes mais desse vinho", "...é a idade, chega a todos" - e daí aos ditotes brejeiros foi um passo e lá desandou a conversa de novo para as palhaçadas do costume que aliviam a alma e abrem os pulmões.
Mas o tipo continuava feliz... bom garfo e melhor amigo.
Mais outro dia sem número e o nosso amigo bem disposto e contagiar com a a sua boa disposição à esquerda e à direita embora que por breves segundos as conversas lhe saíam enroladas em palavras deslocadas de contexto.
Num momento de brincadeira confessou que a velhice agora dava para lhe baralhar o sentido das palavras e que confundia o Capuchinho Vermelho com a Branca de Neve e nem sabia de quem era a avó... mais umas gargalhadas desatentas e presas aos finos fios que nos unem nas realidades.
As coisas foram em bola de neve e um dia alguém lhe disse "é pá devias de fazer exames que andas esquisito" ao que ele sempre pleno de respostas retrucou "já não tenho idade para estudar"...
Mas tantas vezes se repete e se teima que um dia ele muito contrariado lá se convenceu e foi ao Hospital... e um amigo do amigo que levou a outro amigo lá se acelerou os exames e o homem feliz perdeu o brilho no olhar porque descobriu que o seu cérebro tinha lá um ocupante ilegal que lhe estava a apertar as ideias...
Os risos tolos transformaram-se em lágrimas de dor, em angustias e dúvidas, os amigos juntam-se em volta do homem feliz e falam e perguntam e mostram revolta e não querem acreditar nesta verdade tola que a todos apanhou de surpresa...
E veio um médico e mais outro médico e ainda o amigo desse médico e todos olhar e deram opiniões e fizeram conferências e trocaram opiniões e reflectiram enquanto os leigos da vida recorriam às velas , à fé e ao optimismo...
Foram dias negros em que os pensamentos e as angustias se escondiam no fundo da alma na hora da visita para não castigar mais o nosso homem feliz.
E chegou o dia em que o tal de ocupante ilegal iria ser expulso por não estar devidamente legalizado e habitar sem autorização em cérebro alheio... 5 horas, 5 horas de dúvidas, cinco horas de unhas roídas, de olhares tristes, de nervos em franja de perguntas sem resposta...
Dói, dói de uma forma muito estranha esta angustia do desconhecido...
Mas a vida deu um passo em frente porque a morte não tem sentido de humor e hoje o homem feliz já sorri debilmente, mas sorri e nós já deixamos escapar os suspiros que nos embrulhavam as emoções... vão devolver-nos o nosso homem feliz... vão devolver-nos o amigo... vão devolver-nos o João com o seu riso contagiante e as suas brincadeiras encantadoras que tanta falta nos faz...
O nosso amigo fui recauchutado com sucesso...