sexta-feira, janeiro 06, 2006

SEM SENTIDO...


e nesse dia a vida era um conjunto de folhas de papel de cores pardas e gastas pelo tempo, papeis cheios de histórias de letras confusas e ideias dispersas.
não havia ordem cronológica nestes papeis e os factos que as letras relatavam cruzavam-se entre si em experiências de revolta desobediente
cada história desta vida queria ter outra oportunidade porque o final poderia ser alterado, nenhuma delas estava em perfeita sintonia consigo própria, eram histórias de dias confusos, dramáticos, tristes onde o sol era riscado de chuva ventosa
não havia entre estas folhas histórias felizes porque essas não marcam na alma e não fazem mover a tinta que as deixa gravadas no papel, os dias felizes, que existiram seguramente tinham sido vividos com tanta intensidade que o tempo não deu registo deles porque todos os minutos são poucos para se ser feliz
por isso neste monte de papeis amarelados só havia relatos de angústias e as letras eram revolta pura e os riscos misturavam-se em deformações confusas como se a vontade de contar fosse tão urgente que não houvesse tempo para apurar a escrita
estavam presos por um elástico, já velho, estes papeis que nem direito tinham a ser caderno, eram folhas de tamanhos variados e origens suspeitas, eram guardanapos de café, eram envelopes usados em que a história se confundia com as marcas do correio...
elástico cansado do tempo que de elasticidade já só guardava o nome porque estava magoado do tempo, frágil borracha corroida, já se pegava aqui e além aos papéis em restias de esperança
tinha sido uma vida de guarda, guardava as memórias e as histórias mantendo-as unidas num abraço forte que a velhice fazia agora deslaçar, e cada dia que passava sentia que perdia forças
e naquele minuto que nem deu para decorar... quebrou e tombou no chão em forma de S... já não era um elástico, já não tinha identidade
voaram as histórias, soltaram-se as letras, espalharam-se os papeis confundiram-se os contextos e tudo agora não passava de lixo que um dia alguém havia de deitar fora..
a vida é assim... feita de acontecimentos momentâneos que alteram a sua história

1 comentário:

Anónimo disse...

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