quarta-feira, novembro 23, 2005

... apetece-me falar de tango...
o fado não me seduz tanto, porque é uma tristeza chorona e consumida, porque lhe falta a revolta de não querer de não deixar que aconteça. O tango mostra garra, raiva, luta pelo que se quer... usa o desprezo como arma para conquistar... nem sempre ganha mas pelo menos luta...
"O tango, como o fado, é arte de representação. Quanto mais exagerados, mais verdadeiros. Só que o fado representa-se para dentro enquanto o tango se representa para fora.
As cabeleiras das mulheres, a brilhantina dos homens são sinais desse teatro que, do outro lado, por dentro, se desmonta num drama apenas perceptível para os que também foram atingidos pela seta de Cupido.
O fado é feminino porque nasce no mar. Lisboa, além... O tango é masculino porque nasce nas margens. Buenos Aires.
O fado, sendo mar, não tem limites. Impreciso.
O tango, sendo porto, vive entre muralhas. Finito.
No fado, o feminino sente saudade do centro masculino. No tango, o masculino suspira pelo ventre feminino. Por isso o fado é saudade de Deus. Por isso o tango é saudade da mãe. No fado, a mulher chora amparada na guitarra. O homem comanda. No tango, o homem, embora fingindo-se galo, chora na respiração sacudida do bandoneón. A mulher comanda. No tango, o homem encena a sua masculinidade; a mulher, a sua feminilidade. Encena-se a paixão. As suas cenas. Com gestos largos."
extraido do texto publicado por FERNANDO MAGALHÃES, Sexta-feira, 3 de Março de 2000, no Jornal Público

1 comentário:

Anónimo disse...

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