quarta-feira, abril 26, 2006

des-encanto...





Em dias de densa neblina em que a natureza se confunde nas sombras de sonhos sem cor, caminho em passo demorado como que arrastando a vida nas terras de lama barrenta onde o sol não chega e o calor não penetra.
Paro por minutos porque me cansa ouvir o chapinhar ritmado de quem não tem destino, paro para ouvir os pingos de humidade que caiem lentamente procurando companhia de águas passadas, paro porque a natureza inquieta assim me obriga para contrariar essa vontade de correr na procura de abrigo silencioso onde aqueço a epiderme num abraço solitário.
Estou parada nas sombras do caminho onde advinho maravilhas na luz difusa que os braços da floresta deixa antever e respiro esse cheiro a molhado que só se sente nas manhãs de Outonos campestres.
Estou parada e deixo-me atravessar por sons inventados que percorrem histórias de encantar e onde os lobos não se escondem e as vidas não se medem em tempo decrescente.Ouço as sedas e os risos, os sussurros de conversas secretas que se esconderam nos troncos já mortos desta floresta de ramos entrelaçados.
Contam justiças e amores, desencontros e passados, contam no vento e nos assobios deslizantes que se esgueiram por entre os braços nus de madeira quase apodrecida.Queria pisar as folhas do fim de verão e ouvi o estalar dos dias passados, queria realizar os sons e personificar os segredos, queria saber como, quando e aonde, queria deslizar nas memórias guardadas dos anos que não passei aqui, queria descodificar os seres falantes com quem não cruzei caminho, queria traduzir as conversas de pássaros que não mudaram de caminho.
Sinto gelo nas entranhas que me diz que lá na frente vou encontrar todas as dúvidas em forma de maça vermelha riscada e apodrecida.
Sinto nos pés a paralisia de quem não sabe parar e pára porque não pode mais andar. Sinto nos dedos o formigueiro da curiosidade mal contida que suga em desespero imagens dispersas.
Chove cá dentro como lá for a, chove e eu não reconheço o som porque tudo são imagens estáticas que não consigo tocar. Aconchego-me na manta que insinua deslizar procurando solo firme e viro as costas ao tempo deixando para trás a friagem das certezas.
Anoitece e pesam silêncios que tal como eu apenas procuram o vermelho de um fogo esquecido

1 comentário:

Anónimo disse...

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